José Maria de Oliveira

Letras e Traços

José Maria de Oliveira

SENOFOBIA?

Todos lhe chamam a terceira idade, pessoalmente  (por que cada segundo da nossa existência é uma idade, porque sempre foram imprecisas e aleatórias todas as tentativas de compartimentar a existência, pois desde sempre o falacioso pseudo/binómio cartesiano alma-corpo,  derrapou nas matrizes desta anomalia do “oito ou oitenta” - conhecemos gente velha “nova” e gente nova “velha”) costumo chamar aos mais vividos e usados os veteranos da vida…
O envelhecimento traz, para além das vicissitudes próprias da biologia humana, por princípio, a acumulação de experiência, sabedoria, simplicidade e tolerância. Os anos trazem, por regra, uma maior abertura, generosidade e emoção às relações humanas.
Subir nos anos ou crescer no tempo e avançar com dignidade, paciência e perseverança é sempre um trajeto vitorioso!
Hoje há países que promovem e auscultam cada vez mais os velhos. Os senados são uma prova disso. Concordo plenamente com o já gasto slogan “parar é morrer” … e nada mais triste do que ver muitas vezes gente válida, sub alheada ao desabrochar constante da Vida, dormitando pelos bancos dos jardins ou sonambulicamente anestesiados frente a um ecrã de televisão ou dum facebook de saudades!
Ser velho é uma vitória da vida sobre a morte. Uma dádiva de Deus. Ser velho pode ser também um privilégio para quem pode desfrutar dos seus conhecimentos, aprofundar a sua consciência espiritual ao encontro (para os que têm consciência disso) da “unidade” com o Todo, que nos “roubaram” quando nascemos e nos imprimiram os padrões convencionais das personalidades sistémicas em que o nosso Ego se encolhe para dar lugar a uma mentalidade padronizada, egóica e infeliz…!
Quem não gosta dos avós?
Talvez muitos sofram de “senofobia” (aversão a tudo o que é velho) por encararem a “velhice” como a decrepitude, o espantalho da morte: o fim e não a meta da existência o salto para a liberdade suprema da eternidade… o eterno retorno onde todos estão com todos e tudo está com todos…
A sociedade hoje não é mais perversa nem mais cruel do que sempre foi desde que o homem tomou consciência do eu, do tu e do nós. Apenas os paradigmas se alteraram e a solidão veio para ficar, paradoxalmente, numa altura em que o mundo tem mais gente.
Anda agora por aí o “novo” homem o “homotelemovilense curvado” virtual alimentado na energia dos campos eletro-magnéticos dos centros comerciais do mundo virtual…
Que tipo de velhos darão estes jovens de hoje, amanhã?
Cada vez há mais famílias monoparentais e gente solitária e triste, que já procura o calor duma companhia no aluguer de amigos, bonecos, cães, gatos ou duma “palmilha electrónica” sem ontem, hoje ou amanhãs …
Avó!!! Onde estás???
Avô!!! Vamos passear ao jardim!
E que tal uma partida de bisca a quatro; com uns bagacinhos???
Que é feito do velho clã, com as famílias sentadas à lareira ouvindo estórias de sempre enquanto uma mão cheia de brasas luminosas aquecia no borralho um caldo feito de aromas e segredos ancestrais que só os velhos sabiam?
Que sociedade é esta que nos “obriga” a despejar para fora de casa os nossos entes mais queridos (e falo também das crianças despejadas nos infantários), numa idade em que mais precisam do Calor Humano?
Hoje os “estados humanistas” (aqueles que creem que o Homem é ainda o inventor do “MUNDO” mesmo com as suas mazelas, mas também com os seus ninhos de Amor e Sonhos) tendem a singrar contrariando e combatendo os antigos “credos” alheados, na prática, do mais importante da vida: O Sentimento de Si, a Empatia e o Amor!
O espaço-tempo não para, é preciso geri-lo abrangentemente num mundo que ainda é o nosso e o único! Não há duas Terras.
Aqui e agora, numa tarde de outono chuvosa bem perto de Deus, sentindo a carícia doce duma chuva desejada e uma melodia de sempre, acabo esta crónica num desabafo e num abraço nostálgico.
Deixo-vos com uma quadra de António Aleixo:
O Homem sonha acordado…
Sonhando a vida percorre
E desse sonho dourado,
Sá acorda quando morre!
Há que manter vivo o Sonho, porque quando ele morre a Vida acaba!!!
- Avô. Onde estás? Conta-me uma história:
-Era uma vez…