Fernando Vieira

à Deriva

Fernando Vieira

Carnaval pegado

A julgar pela cadência com que se estão a efetuar atos eleitorais neste país à beira-mar plantado, até parece que os portugueses se pelam por uma boa campanha e não perdem nenhuma oportunidade de exercer o seu direito cívico.

Mas, depois, vai-se a ver e o que temos são crescentes e preocupantes índices de abstencionismo, aos quais a classe política não dá a mínima bola, convencida que está dos seus méritos republicano-democráticos e do seu abnegado espírito de missão em prol do povo.

Pior que isso, revela-se pouco ou nada sensível aos transtornos funcionais, a todos os níveis, que as dispensáveis crises governativas, geradas por guerrinhas estratégicas do alecrim e da manjerona, causam no quotidiano do português comum, que legitimamente apenas ambiciona desfrutar de uma qualidade de vida proporcional à carga tribuária que o asfixia.

Em vez de a nossa elite política se debruçar em mixórdias como o hipotético recrudescimento da pandemia ou o avassalador aumento do preço dos combustíveis, já está tudo a cogitar quais as melhores táticas para a caça ao voto agendada para 30 de janeiro próximo.

Cá pelos algarves, onde é expetável mais uma pífia ida às urnas, como vem sendo tradição, começam já a notar-se as movimentações das forças partidárias no sentido de elaborar as suas listas de putativos deputados, quantos deles ignorantes da realidade desta região, à qual nunca prestarão contas, por mais eleitos que por cá sejam.

A propósito desta fase de incertezas, iniciada no momento em que se desenhou a crise forçada por politicoides de pacotilha e aplaudida por populistas fascizoides, pus-me a fazer contas sobre o tempo que mediará até ao exercício pleno do XXIII Governo Constitucional, nomeadamente no que tange ao congelamento de medidas e programas de benefício e incentivo ao Algarve e aos algarvios, e enquanto o próximo Orçamento da República não entrar em funcionamento.

Assim, e após as passeatas em janeiro dos candidatos às Legislativas e seus apaniguados, distribuindo bonés, lapiseiras, bandeirolas, porta-chaves, autocolantes e outras (in)utilidades, só teremos novidades palpáveis - na melhor das hipóteses - lá por alturas do Carnaval…!