Crónica
Fernando Correia
FALANDO DE MISTÉRIOS ENTRE A VIDA E A MORTE
- Partilhar 08/09/2022
A morte é um
mistério, mas a vida também é e não se torna
possível pensar numa coisa sem pensar na
outra.
Antes de nascer, o que era eu?
E se eu não tivesse nascido, onde estava?
A resposta fácil tem a ver com aquilo que
toda a gente sabe.
O Ser Humano
acontece, forma-se, desenvolve-se através da
fecundação de um espermatozoide que atinge o
óvulo e forma o zigoto, a primeira célula do
novo Ser.
Ponto final.
Tudo isso é
belo e misterioso, mas não explica tudo,
porque continua a não me dizer donde venho e
o que era eu antes de ser alguma coisa.
É
neste mistério que vivo e é neste mistério
que morro.
Ou seja: o mistério de não
saber, de não descodificar, de não explicar
o essencial, leva a que eu encare a morte
como parte imprescindível do processo
existencial e que essa segunda parte seja
tão misteriosa como a primeira.
Dir-se-à:
então vale a mais a pena que não saiba,
desde logo porque ninguém me consegue
explicar.
Os livros Sagrados aproximam-se
(ou não) e tentam uma explicação
sobrenatural que se baseia na vontade de
Deus, mas logo entram em contradição ao
dizer que Deus selecciona as almas e umas
morrem, outras não.
A omnipotência divina
não deve ser medida assim, nem pode ser
avaliada como se se tratasse de um
julgamento.
Esse Deus que avalia, que
decide, é único, criativo, bondoso,
igualitário, fraterno e tem capacidades
invulgares que são intraduzíveis em
pensamentos e palavras comuns.
ELE está
para além de tudo, logo está também para
além da minha (da nossa) compreensão.
A
morte é um mistério, mas não é o fim, tal
como a vida é um mistério mas não é o
início.
Entre uma coisa e outra há uma
mancha cinzenta não explicada, ou então
explicada de acordo com a nossa capacidade
de entendimento e de avaliação dos
mistérios.
E tudo isto está tão bem
feito, tão correcto, que só podia ter sido
concebido por uma inteligência superior.
Não há volta a dar e por muito de científico
que eu consiga colocar nas palavras, nas
razões, nas explicações, nos estudos, nas
fórmulas, sobeja sempre a dúvida: donde
venho e para onde vou?
Seria simples
dizer: venho do nada e vou para o nada. Mas
essa seria uma explicação demasiadamente
fácil e redutora, perante a natureza.
Eu
venho de alguma coisa e vou para a alguma
coisa.
Não sou pó amassado, nem me
sopraram o fôlego da vida, nem vou dormir o
sono eterno, até que me acordem outra vez.
O meu processo só pode ser de transformação
permanente e mesmo sem que eu saiba, Sou e
volto a Ser.
Fico por aqui.
Faz bem
pensar. Mas faz melhor acreditar na minha
pequenez, na minha reduzida dimensão perante
a grandeza infinita do que me rodeia.
A
explicação pode estar aí: no infinito!
E
é no infinito da vida que está, desde hoje,
o meu amigo Paulo Lepetri, Professor da
Universidade do Algarve e Mestre da minha
alma, sempre à procura de quem goste dela.
Tenho dele (já) uma infinita saudade. Mas
sei que o vou voltar a ver.
FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)
- n.40 • setembro 2022