Fernando Correia

Crónica

Fernando Correia

FALANDO DE MISTÉRIOS ENTRE A VIDA E A MORTE

A morte é um mistério, mas a vida também é e não se torna possível pensar numa coisa sem pensar na outra.
Antes de nascer, o que era eu?
E se eu não tivesse nascido, onde estava?
A resposta fácil tem a ver com aquilo que toda a gente sabe.
O Ser Humano acontece, forma-se, desenvolve-se através da fecundação de um espermatozoide que atinge o óvulo e forma o zigoto, a primeira célula do novo Ser.
Ponto final.
Tudo isso é belo e misterioso, mas não explica tudo, porque continua a não me dizer donde venho e o que era eu antes de ser alguma coisa.
É neste mistério que vivo e é neste mistério que morro.
Ou seja: o mistério de não saber, de não descodificar, de não explicar o essencial, leva a que eu encare a morte como parte imprescindível do processo existencial e que essa segunda parte seja tão misteriosa como a primeira.
Dir-se-à: então vale a mais a pena que não saiba, desde logo porque ninguém me consegue explicar.
Os livros Sagrados aproximam-se (ou não) e tentam uma explicação sobrenatural que se baseia na vontade de Deus, mas logo entram em contradição ao dizer que Deus selecciona as almas e umas morrem, outras não.
A omnipotência divina não deve ser medida assim, nem pode ser avaliada como se se tratasse de um julgamento.
Esse Deus que avalia, que decide, é único, criativo, bondoso, igualitário, fraterno e tem capacidades invulgares que são intraduzíveis em pensamentos e palavras comuns.
ELE está para além de tudo, logo está também para além da minha (da nossa) compreensão.
A morte é um mistério, mas não é o fim, tal como a vida é um mistério mas não é o início.
Entre uma coisa e outra há uma mancha cinzenta não explicada, ou então explicada de acordo com a nossa capacidade de entendimento e de avaliação dos mistérios.
E tudo isto está tão bem feito, tão correcto, que só podia ter sido concebido por uma inteligência superior.
Não há volta a dar e por muito de científico que eu consiga colocar nas palavras, nas razões, nas explicações, nos estudos, nas fórmulas, sobeja sempre a dúvida: donde venho e para onde vou?
Seria simples dizer: venho do nada e vou para o nada. Mas essa seria uma explicação demasiadamente fácil e redutora, perante a natureza.
Eu venho de alguma coisa e vou para a alguma coisa.
Não sou pó amassado, nem me sopraram o fôlego da vida, nem vou dormir o sono eterno, até que me acordem outra vez.
O meu processo só pode ser de transformação permanente e mesmo sem que eu saiba, Sou e volto a Ser.
Fico por aqui.
Faz bem pensar. Mas faz melhor acreditar na minha pequenez, na minha reduzida dimensão perante a grandeza infinita do que me rodeia.
A explicação pode estar aí: no infinito!
E é no infinito da vida que está, desde hoje, o meu amigo Paulo Lepetri, Professor da Universidade do Algarve e Mestre da minha alma, sempre à procura de quem goste dela.
Tenho dele (já) uma infinita saudade. Mas sei que o vou voltar a ver.

FERNANDO CORREIA
(Jornalista e Escritor)