Crónica
Fernando Correia
NACIONALISMO LEVADO AO EXTREMO DA INCOMPREENSÃO
- Partilhar 04/03/2022
Provavelmente é
redundante referir que o nacionalismo é
extremista, mas no caso vertente da Rússia e
da Ucrânia pode fazer sentido falar em
extremos aplicados às duas partes em
confronto.
Talvez por razões diferentes,
mas conduzindo a fins comuns.
Os russos e
os ucranianos têm origens eslavas e a
Ucrânia fez parte da Rússia durante a maior
parte da sua existência. De tal modo que
Kiev foi capital da Rússia.
Após a
desagregação da URSS, os ucranianos
declararam a sua independência, mas as
ligações ficaram lá, como se percebe pelo
que se passa em Lugansk e Donetsk, regiões
claramente viradas para a Rússia, tendo o
presidente russo reconhecido a independência
dessas duas regiões.
Porquê, então o
ataque actual?
A resposta é: por causa do
nacionalismo russo, levado a um extremo que
toca o absurdo. Mas pode ser, também, por
causa da aproximação da Ucrânia ao Ocidente
europeu, com possível entrada para a NATO, o
que serve às mil maravilhas os interesses
norte-americanos de terem um país amigo às
portas da inimiga Rússia.
E aqui está o
grande busílis da questão.
Ou seja: a
guerra acaba quando a Rússia e os EUA
minimamente se entenderem a esse respeito,
porque, valha a verdade, o papel da
Comunidade Europeia nisto tudo é de pouca
substância e significado.
Existe ainda
uma questão subjacente. É que, quer se
queira ou não, a Ucrânia tem dado grande
alimento ao “batalhão Azov”, que é
constituído por nacionalistas neo-nazis, bem
conhecido pelo seu constante recrutamento
além-fronteiras, como já acontecia no tempo
de Stepan Bandera, que chefiava a
Organização dos Nacionalistas Ucranianos, e
se aliou aos nazis para combater os judeus
da Ucrânia que supostamente estariam a
apoiar o comunismo russo.
Diz a história
que foram mortos quatro mil judeus nessa
altura, porque os nacionalistas ucranianos
queriam oferecer uma “prenda” a Hitler.
De todas estas referências históricas talvez
se consiga retirar alguma coisa de
proveitoso para a total compreensão do
conflito.
Mas há algo que não é possível
subestimar e tem a ver com o sofrimento de
tantos homens, mulheres e crianças que em
nada contribuíram para esta guerra
fratricida.
Esses são os que não têm
culpa, são os indefesos, são as vítimas
inocentes, são os maiores prejudicados, são
os que neste momento cruel percebem que não
têm futuro à vista.
Ao menos, por eles,
devia haver a decência de colocar um ponto
final numa guerra entre povos irmãos que tem
um efeito devastador.
- n.34 • março 2022