Fernando Correia

Crónica

Fernando Correia

NACIONALISMO LEVADO AO EXTREMO DA INCOMPREENSÃO

Provavelmente é redundante referir que o nacionalismo é extremista, mas no caso vertente da Rússia e da Ucrânia pode fazer sentido falar em extremos aplicados às duas partes em confronto.
Talvez por razões diferentes, mas conduzindo a fins comuns.
Os russos e os ucranianos têm origens eslavas e a Ucrânia fez parte da Rússia durante a maior parte da sua existência. De tal modo que Kiev foi capital da Rússia.
Após a desagregação da URSS, os ucranianos declararam a sua independência, mas as ligações ficaram lá, como se percebe pelo que se passa em Lugansk e Donetsk, regiões claramente viradas para a Rússia, tendo o presidente russo reconhecido a independência dessas duas regiões.
Porquê, então o ataque actual?
A resposta é: por causa do nacionalismo russo, levado a um extremo que toca o absurdo. Mas pode ser, também, por causa da aproximação da Ucrânia ao Ocidente europeu, com possível entrada para a NATO, o que serve às mil maravilhas os interesses norte-americanos de terem um país amigo às portas da inimiga Rússia.
E aqui está o grande busílis da questão.
Ou seja: a guerra acaba quando a Rússia e os EUA minimamente se entenderem a esse respeito, porque, valha a verdade, o papel da Comunidade Europeia nisto tudo é de pouca substância e significado.
Existe ainda uma questão subjacente. É que, quer se queira ou não, a Ucrânia tem dado grande alimento ao “batalhão Azov”, que é constituído por nacionalistas neo-nazis, bem conhecido pelo seu constante recrutamento além-fronteiras, como já acontecia no tempo de Stepan Bandera, que chefiava a Organização dos Nacionalistas Ucranianos, e se aliou aos nazis para combater os judeus da Ucrânia que supostamente estariam a apoiar o comunismo russo.
Diz a história que foram mortos quatro mil judeus nessa altura, porque os nacionalistas ucranianos queriam oferecer uma “prenda” a Hitler.
De todas estas referências históricas talvez se consiga retirar alguma coisa de proveitoso para a total compreensão do conflito.
Mas há algo que não é possível subestimar e tem a ver com o sofrimento de tantos homens, mulheres e crianças que em nada contribuíram para esta guerra fratricida.
Esses são os que não têm culpa, são os indefesos, são as vítimas inocentes, são os maiores prejudicados, são os que neste momento cruel percebem que não têm futuro à vista.
Ao menos, por eles, devia haver a decência de colocar um ponto final numa guerra entre povos irmãos que tem um efeito devastador.