Memórias do Futuro
Fábio d'Abadia de Sousa
O Oscar virou uma stand up tragedy
- Partilhar 11/04/2022
O tapa que o ator Will
Smith deu na cara do comediante Chris Rock
durante a última cerimônia de entrega do
Oscar, o badalado prêmio do cinema
hollywoodiano, suscitou paixões por todo o
mundo. Uns defenderam Chris Rock e outros
apoiaram Will Smith. Mas poucos perceberam
que o verdadeiro vilão ali era o próprio
Oscar, ou seja, os organizadores prêmio,
que, ao longo dos anos, estruturam a
cerimônia de forma agressiva e
desrespeitosa, sempre recheada com piadas
totalmente sem graça e ofensivas às pessoas,
principalmente, às minorias sociais.
A premiação em si já traz enormes
preconceitos, isso por excluir das
principais categorias negros, orientais,
latinos, mulheres e homossexuais. O próprio
Oscar deveria, a cada ano, ser ganhador de
estatuetas por racismo, misoginia e
homofobia. A cena de ofensas e
pugilato protagonizada por Smith e Chris
Rock foi apenas um sintoma do racismo
presente nas cerimônias do Oscar, que,
espertamente, coloca um homem negro para
ofender pessoas também negras. É exatamente
a mesma tática fascista adotada no Brasil
pelo presidente Jair Bolsonaro, que colocou
na principal entidade responsável por
políticas contrárias ao racismo – a Fundação
Palmares – um homem negro que se ocupa
apenas em ofender, sistematicamente, toda a
comunidade negra brasileira.
Os
merecedores do tapa na cara deferido por
Will Smith não é um outro homem negro, mas
todos os organizadores da cerimônia racista
e ofensiva às minorias. E este tapa tem que
ser dado na forma de boicote a essas
cerimônias ridículas e circenses do mais
baixo nível. Tem que haver também um boicote
aos filmes laureadas com essas estatuetas
douradas e que não incluem minorias em suas
produções e elencos. Um prêmio que só
perpetua discriminações não pode ser levado
a sério, e não merece ser considerado o
principal do cinema mundial!
- n.35 • abril 2022