Fábio d'Abadia de Sousa

Memórias do Futuro

Fábio d'Abadia de Sousa

O Brasil rumo ao totalitarismo evangélico

Em uma das muitas das entrevistas concedidas aos programas da televisão norte-americana, nos anos 1980, o cientista Carl Sagan fez uma advertência que na época parecia demasiadamente catastrofista, mas que hoje já é assustadoramente real. De acordo com a Sagan, a tecnologia nas mãos de pessoas sem a devida formação intelectual tem um enorme potencial destrutivo, capaz, inclusive, de aniquilar a própria sociedade.  E eu acho que é exatamente isso o que está começando a acontecer em alguns países, a partir de uma leitura do uso das redes sociais para fins políticos.

A tecnologia que esperávamos que nos uniria e libertaria, na verdade, nos divide e nos aprisiona e nos empurra para o caos. É isso o que temos observado a partir de eleição de Donald Trump, nos Estados Unidos, e de Jair Bolsonaro, no Brasil. As populações menos educadas e incapazes de distinguir os factos verdadeiros de boatos e informações falsas, são presas fáceis para políticos inescrupulosos e antiéticos. A academia, isolada em sua redoma ilusoriamente protegida pela linguagem eufemística, começa a classificar a era inaugurada por Trump de a Era da Pós Verdade. O nome, talvez demasiadamente pomposo, é completamente insuficiente para nomear um tempo em que o caos, a mentira deliberada e a desesperança são semeados diariamente por presidentes de Repúblicas, em nome de Deus e por meio de postagens aparentemente inocentes e com frases curtíssimas e fotos e vídeos engraçados no Twitter, Instagram, Whatsapp, Youtube, Telegram e outras redes mais radicais.

A mentira deliberada e com fins políticos é distribuída a conta gotas. Mas, ao final, forma um tsunami capaz de destruir democracias que acreditávamos indestrutíveis. A invasão, do Capitólio, a sede do Poder Legislativo estadunidense, em 6 de janeiro de 2021, parece apenas um pequeno alerta do que está para vir! Se para os nazistas as mentiras precisavam ser repetidas mil vezes para virarem verdade, agora, as pessoas parecem que acreditam nelas assim que as veem pela primeira vez. Principalmente, se distribuídas por alguns pastores evangélicos enriquecidos com doações milionárias e o não pagamento de impostos. Em nome de Deus e dos sagrados valores da família patriarcal acredita-se em tudo, principalmente em mentiras deslavadas e sem lógica! Acredita-se, sobretudo, no ódio!

O dia 7 de setembro de 2021 entrou para a história do Brasil como o dia em que um presidente da República, o Jair Bolsonaro, insuflador de alguns grupos evangélicos nazi-fascistas, tentou fechar o Supremo Tribunal Federal e dar um golpe de Estado. (Faço questão de ressaltar que este pensamento não se aplica a todos os evangélicos. Há muitos grupos evangélicos sérios e que praticam sua religiosidade apenas em nome do amor e do enriquecimento espiritual).
 Por enquanto, Bolsonaro não conseguiu implantar o totalitarismo no Brasil. Mas segue tentando mesmo assim! Com o apoio de pastores de algumas igrejas neopentecostais, reza, ou melhor, “ora”, um “Pai nosso”, na entrada do palácio presidencial e continua em sua tentativa de destruir uma país inteiro. E, assim, a cada dia novas mentiras são publicada nas redes sociais e as instituições e reputações de adversários vão sendo aniquiladas! Enquanto isso, a exuberante floresta amazônica e seus guardiões, a população originária do Brasil, vão sendo mortos. Tudo em nome de Deus e com o apoio da elite branca, a principal interessada em implantar um governo totalitário no Brasil e incendiar o país (literal e metaforicamente), para, assim, se enriquecer mais ainda. Ah, Carl Sagan, sorte sua que não viveu para ver a realização de sua profecia!