reflexões in verso
Afonso Dias
poema do borda d’água
- Partilhar 06/02/2022
poema do borda
d’água
cada dia é de seu santo
e hoje 6 de fevereiro
domingo e sem
pinga d’água
é o da santa doroteia
e mais de são paulo miki
(escrito
assim mesmo com K)
certifica o
borda d’água
almanaque lá de casa
longevo como o dianho
de noventa e
três invernos
mais vos digo que
lá li
que neste dia nasceu
em mil
seiscentos e oito
um menino que
haveria
de vir a ser o vieira
que
conversava com os peixes
e sermoava
aos escravos
em terras de vera cruz
onde floriu o carnaval
mais a santa
bossa nova
ambos ora amordaçados
pela bolsonaria peste
e as coroas de
veneno
(mas por onde é que eu já
vou
que ainda acabo no amor
ou a
falar passarinhos)
o borda d’água
é que veio
visitar este poema
apareceu-me ele em seia
ali à serra
da estrela
pela mão da mulher búlgara
a quem eu dei os dois euros
que
melhor gastei na vida
sábio das
ervas de cheiro
e dos tempos de
plantio
de chuvas neves e orvalhos
do oráculo das luas
dos dias disto e
daquilo
de festas e romarias
de
horóscopos e purgas
que limpam o
intestino
de rezes e pastorícia
mestre em marrãs parideiras
conhece os santinhos todos
o meu
mestre borda d’água
que me alagou a
lembrança
e me trouxe felicidade
(e a falta que ela me faz)
e com
fumos de hortelã
me deu estes versos
tolos
que ora aqui vão perfumados
ficai ainda a saber
que o sábado
dia 20
‘inda do mês fevereiro
tem
por santo o eleutério
e nele nasceu o
nemésio
da terceira o bom poeta
e
é o dia mundial
da justiça social
vem tudo no borda d’água
que é
culto e tem serventia
ora lede ora
estudai
6.2.2022
- n.33 • fevereiro 2022