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Festival Uma Lengge - Indonésia
Sílvia Oliveira

Ali, naquele terreno circundado por árvores, onde as cabanas se alinhavam paralelamente umas às outras, formando pequenas ruelas, a agitação insurgia-se. Eram cada vez mais o número de pessoas que ia aparecendo. Era um imenso colorido de hijabs, trajes tradicionais, sons e aromas nunca antes sentidos.

Eu nunca tinha visto nada, assim!

Quando me sentei naquele banco de três pernas que não deveria ter mais que quarenta centímetros, observava tudo ao meu redor. Especialmente os sorrisos e os olhares de quem por perto passava, as mulheres eram as que mais vulgarmente se aproximavam.

A vantagem do uso hijab é o rosto livre e descoberto na mulher muçulmana, permite ver as suas expressões. Apetecia-me fotografar tudo! Mas a minha intuição dizia-me que não. Naturalidade e descrição era o que eu tinha de manter.

No decurso da camuflagem das minhas emoções, chega Setia’wan e o seu filho. Traziam comida. O menino cujo nome eu nunca consegui pronunciar, vinha “acompanhado” de um prato de arroz frito com legumes e pequenos nacos de carne. Setia’wan numa das mãos trazia peixe frito, que mais parecia carbonizado e na outra, um prato com cerca de dez pequenas espetadas de carne. Com algum esforço e amabilidade partilhei um pouco daquela refeição, cujo aspeto era semelhante ao paladar. Nada apetecível!

Setia’wan percebeu o meu desalento. Nas ilhas onde eu já tinha estado, Bali e Lombok a comida era saborosa. Mas, ali, naquele Festival, naqueles tachos imundos com aqueles óleos intemporais…

Apesar disso a magia do local enchia-me a alma, e eu não queria perder um “átomo” que fosse do que ali se estava a passar. Foi quando vi uma senhora dos seus sessenta e muitos anos com um cestinho no qual transportava pequenos sacos com ovos de codorniz. De repente tive uma sensação de momento EUREKA!

Era uma epifania!!!

Corri na sua direção e com algumas rupias que ainda me restavam comprei dois sacos, ou seja, quarenta ovos. Fiquei com medo de passar fome e não sabia como seriam os meus próximos dias. As miúdas que por ali andavam e que me viram meio ofegante a passar, riam de mim, devia ser da minha aparência de olhos arregalados e completamente desgrenhada.

Quando me voltei a sentar comi meio saco de ovos. Enquanto Setia’wan falava com quatro jovens raparigas. Foi quando percebi que estava a arranjar-me um local para passar a noite. Fomos mutuamente apresentadas. Só me lembro do nome de uma – Acoy.

Acoy era uma jovem de vinte e poucos anos com a morfologia típica de uma mulher da Indonésia. Irradiava simpatia, e falava um pouco de Inglês. E foi graças a ela que fiquei a saber mais sobre aquele evento – Festival Uma Lengge

Uma significa casa e Lengee, significa cônico. Aquelas eram cabanas tradicionais, faziam parte do património cultural dos antepassados de Bima.  O material principal era a madeira. Eram contruídas sobre quatro pilares e o teto era formado por juncos. Acoy explicou-me que as cabanas eram de três andares: no primeiro era onde se realizavam as cerimónias tradicionais, a cama e a cozinha ficavam no segundo e no último andar era onde se armazenava os alimentos. Depois de uma visita guiada, começamos a dirigir-nos para a selva. Como não via bem na escuridão lembrei-me de ligar a lanterna do telemóvel. Acoy disse-me - é aqui que vamos dormir, eu não via nada para além da vegetação e aponto para o chão – Aqui?  Ela aponta para cima e foi quando vi uma dúzia de redes sobrepostas …