Afonso Dias

reflexões in verso

Afonso Dias

olhar

olhar

mesmo de soslaio
pelo rabo do olho
disfarçadamente
um ponto de vista
se instala no fito
olho arregalado
do ver evidente
do olhar do artista

dilata a pupila
arrepia a iris
o cílio cicia
arqueia o sobrolho
pálpebra tremente
olho de perdiz
o olhar de dentro
na lágrima ardente

  

trata-se de olhar
trata-se do olhar

  

seja a piscar, a contemplar, a observar, a fitar, a espreitar, descortinar, a mirar, a piscar,  a avistar;
com olhos que choram, que riem, que interrogam, que perscrutam, que suplicam;
de olho vivo, olho de lince, olho de águia, olho de água;
à  vista desarmada, ou a olho nu;
de um golpe de vista, de uma olhadela, com olhos de ver;
olhos nos olhos, olhos espelho (da alma que avisa);
mas nunca pitosga, cegueta do tipo “mais cego é quem não quer ver”
(e nem oftalmologista
nem oculista
têm maneira de resolver);

de microscópio, de telescópio, do miradouro…

é limpar a ramela
(se caso pôr rímel)
olhar com cautela
o que admirar
que se saiba olhar
e se aprenda a ler

que não seja nunca
   o mau olhado
   o pobre modo
   de não ver

22.2.21